Percalços de uma vida Era apenas um rapazito de doze anos. Franzino, de olhos azuis penetrantes e cabelo negro. A escola já terminara há algum tempo. Seu pai tinha falecido quando ele era ainda pequenino, tinha poucas memórias dele, nem tão pouco da sua face se lembrava. Recordava vagamente alguns breves episódios e vivia das memórias que os irmãos mais velhos lhe transmitiam. Ficara a viver numa aldeola remota no meio da floresta com a mãe e os seus três irmãos. A pobreza das famílias era flagrante naqueles anos cinquenta, o pós-guerra, fosse ela qual fosse, a mundial, a colonial, fazia com que a vida não fosse abastada, com que os empregos escasseassem, com que a necessidade de sobreviver fosse o lema de todos. Para as mulheres restava pouco mais do que um casamento que providenciasse algum conforto, para os homens a via da emigração, das colónias, ... Soledade, a mãe de Manuel, era ainda jovem quando o primeiro marido, pai dos seus quatro filhos, faleceu. Ap...