Mãe
O calor sentido daquele abraço deixavam-na esquecer as amarguras da vida. Na verdade, nunca pensara em ser mãe, achava mesmo que talvez não tivesse sido talhada para o papel. Quando alguém nasce, quem sabe o que o destino lhe reserva? Mas tudo aconteceu como devia.
Foi mãe pela primeira vez aos vinte e nove anos e, assim que pôs os olhos naquele pequeno ser rosado que lhe colocavam no peito, foi como se todo o universo fizesse sentido naquele rosto redondo. A ternura de o agarrar nos braços, o calor que sentia ao coloca-lo junto a si, a ansiedade de o ouvir chorar, da inexperiência, da necessidade de se afirmar, levaram-na a ter a certeza de que a sua vida tinha mudado.
Um sentido de proteção, de preocupação e de amor infinito fixaram-se dentro de si e a vida passou a ser dividida, a ser partilhada por aquele pequeno ser tão frágil.
A fragilidade tornou-se afirmação, conquista do mundo, de pequenas etapas que lhe enchiam o peito de orgulho, de atropelos e aprendizagens, de vitórias e derrotas, de satisfação, de desejos e, ao mesmo tempo, de caprichos, de birras e de egoísmo frágil. A mãe amava o seu filho.
A grandeza do universo haveria de lhe trazer uma nova alegria que brilhava nos seus braços. E aí já não era apenas um, eram dois. Seria capaz de os amar aos dois? Seria capaz de olhar para eles com a mesma afeição, com o mesmo sentimento? Rapidamente viria a descobrir que sim; que no seu coração cabiam os dois e que a preocupação, a atenção e o cuidado se redobravam.
Anos mais tarde, numa teia de acontecimentos, haveriam de ficar os três naquela casa, no seu cantinho, mas a mãe sabia que os seus filhos construiriam o seu caminho e que ela os apoiaria.
O menino que se tornara homem ganhou asas e voou, partiu à descoberta do mundo. Pouco depois, foi a altura da sua mulherzinha seguir as pisadas do irmão, de crescer, de conquistar o seu espaço. O vazio não se instalou, a mãe sabia que as ligações entre eles nunca se quebrariam e sabia que os deveria deixar construir as suas vidas. A consciência dessa premissa levava-a a ser feliz por ter sabido dar ao mundo duas pessoas maravilhosas; a maior prova de amor de uma mãe é saber libertar os seus filhos, sem egoísmos, sem restrições, saber educa-los para os valores da vida (ainda que tantas vezes o outro não os reconheçam), perdoar, mas repreender, ouvir e saber aconselhar.
A ligação nunca se perderia, o amor que os começou a ligar no ventre materno cresceu e marcou as vidas dos três. Cada filho sabia agora viver a sua vida e sobretudo sabia também onde estava a sua mãe.

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