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A mostrar mensagens de janeiro, 2021
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Os caminhos da vida      A criançada corria feliz, por aqueles dias, na aldeia. A liberdade que se vivia ali era completamente diferente da vida da cidade. Saiam de manhã, sob o protesto dos avós protetores (Olha o chapéu! Leva o lanche! Cuidado com as brincadeiras!...); não havia conselho que não fosse repetido, tal qual disco riscado, mas, enfim, era isso que se esperava dos avós. Principalmente destes avós que não estavam acostumados a tomar conta dos netos, que apenas os visitavam em alturas de festas ou nas férias de Verão, tal era a distância que os separava na restante parte do ano. Assim, todo o cuidado era pouco, ainda mais quando os pais das crianças não estavam por ali; tinham de trabalhar naquele mês de agosto quente. Enfim, o que é certo é que não seguravam aqueles miúdos muito tempo em casa; eles queriam liberdade e brincadeira. Calcorreavam os caminhos empoeirados que dividiam a floresta, jogavam à bola no campo de futebol cheio de ervas altas, chapinhavam ...
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  O Farol      O sol teimava em querer esconder-se no horizonte quando Silvestre puxou o seu pequeno barco para o banco de areia que ficava ao fundo das rochas encostadas ao farol. Estava na hora da sua tarefa diária; não lhe dava descanso, nem tão pouco cansaço, pois aquela era a sua verdadeira vocação: ser faroleiro. Sentia-se intimamente feliz por poder abraçar aquela missão e guiar tantos e tantos barcos. De vez em quando da capitania mandavam alguém para o substituir, diziam que devia gozar férias...de quê? Não encarava a função de mestre do farol como uma obrigação, ficara muito feliz quando, após testes e provas, o escolheram para ser ele o timoneiro daquele barco, pelo que, por ele, ficaria por ali toda a vida.        Certa vez, adoecera, tivera febres altas, tremores, suores e muita fraqueza. Tivera de ficar de cama durante uma semana e foi substituído. O farol não podia ficar às escuras, tinha de brilhar no horizonte e guiar os mari...
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Retalhos de uma vida     As viagens eram sempre um retorno às origens, ao cerne do quotidiano que passava sem se ver.        Madrugada cedo, o serralheiro da aldeia (atualmente, profissão conhecida como mecânico), dos poucos que tinham carta de condução naquelas bandas, carregava as malas na caixa do seu jipe, abria a porta para o banco traseiro e lá íamos nós de volta à cidade. Mas não era uma cidade já ali, ficava a um dia de viagem de comboio pelo que, ainda pequenas, sabíamos o que significava a viagem de regresso: despedidas rápidas, viagem de carro até à estação dos comboios, refeições avulso, primeiro comboio, dormida no beliche do comboio, espera ansiosa pela próxima carruagem, segundo comboio, carregar malas e viagem de autocarro até casa. Esta era a rotina que, apesar da tenra idade, já conhecíamos, no entanto, nem sempre pacífica, nem sempre rotineira, nem sempre enfadonha...         Certa vez, na mudança de um ...
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Teresinha      Nos olhos daquelas crianças surgia um brilho especial sempre que se ouvia a voz da professora: “Meninos, está na hora do nosso conto!”      Viviam-se tempos difíceis na vila desde que a fábrica fechara, ao fim de vinte anos de empenho todos os trabalhadores tinham sido dispensados. Alguns sentiam-se ainda esperançosos num recomeço, na procura de um futuro noutra vila, noutra cidade ou noutro país, mas para os pais da Teresinha era difícil.         João e Maria estavam já nos seus cinquenta anos, os seus dois filhos mais velhos já tinham encontrado o seu rumo: Artur tinha emigrado para a Suíça, conhecera lá uma rapariga e resolvera casar-se; Joaquim ficara-se pela cidade mais próxima, começara como ajudante num armazém de revenda de materiais e, agora, já era chefe de uma secção. Tinham muito orgulho nos seus filhos; estes cresceram educados e trabalhadores.       Sempre que podia, Artur visitava a ...
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Teresinha Assim começa o conto: "Nos olhos daquelas crianças refletia-se um brilho especial sempre que se ouvia a voz da professora: “Meninos, está na hora do nosso conto!” Amanhã, publica-se o conto da Teresinha...  
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  Às primeiras horas do dia, Inspiro o ar da manhã... E, ao longe, vislumbro uma acalmia, Uma esperança vã! Recuso-me a acreditar Na tempestade ao fundo! Sei que as ondas do mar Tudo mudam num segundo. Imagino-me a voar, Sem fim nem destino; Deixo-me apenas guiar Por um errante submarino. Quando, por fim, aterrar... Já nada será como dantes: O espírito por domar, Num enredo de sons vibrantes. Sonhar, Esperar, Imaginar, Procurar. Quem sabe... Um dia, talvez... Voltar a amar...