Jessie
Na mesma casa da Malhada, vivia uma cadela que fazia muita asneirada!
Esta era a opinião da Malhada que não deixava de ser duvidosa pois quando se tratava de abordar questões mais pertinentes a gata gostava de mostrar os seus dotes e afirmar que era inteligente!
A cadela era, de facto, desastrada, mas muito bem amestrada! Escutava, sentava e esticava a sua pata sempre que era solicitada! Era, por isso, obediente apesar do desdém da gata inteligente.
Certa vez, com tanto entusiasmo, caçou uma galinha, tropeçou numa pinha e afugentou a vizinha. Mas não fez nada por mal, era uma cadela desajeitada e tal era a alegria quando via a sua dona que já nada mais lhe chamava a atenção, nem a cantoria da pomba que, em certos dias, mais parecia uma bomba. Enfim, já todos estavam habituados ao frenesim.
Quando levavam a cadela a passear, ela era incapaz de andar, a sua velocidade era tal que davam duas voltas à cidade, parecia que tinham um motor movido a eletricidade! De verdade!
Da parte da tarde, do que ela mais gostava era de dormir sob o sobreiro, apesar do calor soalheiro, ela regozijava-se à sombra da folhagem sentindo uma leve aragem que lhe acariciava o pelo macio e a fazia sonhar com um belo gelado saboroso e frio. Pois, a cadela era gulosa, adorava gelados e bolos, tudo o que tornasse a refeição mais saborosa!
Á noite, reinava a festa no canil! Ladrava, cantava e saltava à descoberta das histórias que lhe chegavam pelo ar! Era o cão Sarmento que se queixava das articulações num longo lamento! Era o cão Simão que de tão hiperativo se tornava aflitivo! Era a cadela Barbosa que ladrava sempre em prosa! De vez em quando, ouvia-se o velho cão Fernando que já dormia mais do que latia, mas todos o ouviam com atenção pois esse cão sabia ensinar-lhes a lição!
Por vezes, a Malhada incomodada com tanta conversa e tanta risada, desatava a miar e pedia a todos que parassem, que não incomodassem o seu sono de beleza. Eles...ouvir, ouviam, de certeza, mas não ligavam à gata que queria dormir!
Eram dias e noites bem agitados e, se à noite conversava, de dia repousava a cadela, exceto quando a sua dona aparecia. Era tal a alegria que não conseguia parar, e chegava mesmo a choramingar para que os seus momentos de atenção lhe aquecessem, por mais tempo, o coração. Não havia cadela mais dedicada, mais devotada à sua dona. Tanto assim era que até a Malhada achava estranho uma afeição daquele tamanho!
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