Pequenos contos: O pato Renato


    O pato Renato não era um pato comum, pois para além do bico verde, adorava comer sandes de atum. Era pacato e astuto, andava devagar e detestava ser bruto, preferia conversar, ou melhor, grasnar, do que estar sempre a gritar como o seu vizinho Martinho. Enfim, gostava de filosofar, de rimar e de sonhar em voz alta, mas detestava estar na ribalta. 

    Renato adorava viver na sua pequena comunidade que se instalara junto a um lago, numa linda propriedade. Todos viviam em harmonia, de vez em quando, havia uma brigazita, já se sabia, mas depressa se resolvia com a intervenção do pato João. Era este que orientava o bando dos patos, por ser o mais velho e o mais sensato, todos o ouviam e ninguém o achava chato. 

    No entanto, certo dia, o pato João perdeu a razão, coitado! Não dizia coisa com coisa! Adiantava-se que fora uma alergia ou outra qualquer patologia, o que se sabia é que já ninguém confiava naquilo que o pato dizia. 

    Começaram a surgir as brigas, as intrigas, os desentendimentos e os lamentos! 

    “A tua minhoca é maior do que a minha!” Acusava a pata Mulata.

    “Tu és uma má vizinha!” Acusava a pata Pirata.

    Reinava a confusão, mas não havia volta a dar com o pato João que, alegremente, nada no lago e cantava uma canção. 

    Foram os patos gémeos, o Rufino e o Silvino, que decidiram tentar por cobro à situação e arranjar uma solução: encontra-se novo líder para suceder ao João! Alguém que saiba chamar os outros à razão, que seja inteligente por natureza e que saiba orientar a todos com destreza. Estava lançado o desafio! 

    Apresentaram-se três candidatos: o pato Joel, o pato Manuel e o pato Samuel. Olharam-se de soslaio, grasnaram sons ofensivos, fixaram-se nos olhos e tornaram-se agressivos. Saltavam penas, rebolavam-se os patos, vieram outros, às dezenas, observar aquelas cenas. 

    Os gémeos ficaram tristes. Concluiu-se que não podia ser, não podiam ter alguém que não soubesse como ser chefe. Assim, resolveram que o melhor seria observar toda a comunidade e convidar o pato que agisse com maior sinceridade. 

    Assim foi, mas, coitados do Rufino e do Silvino, acharam que não iam encontrar o pato perfeito pois acabavam por ver em todos um defeito. Ainda lhes passou pela ideia convidarem o cisne Malato, mas depressa desistiram, pois não entendia a filosofia de ser pato, para além disso, era verdadeiramente chato. 

    Regressavam de mais um dia de procura, quando param a observar o pato Renato que aconselhava um gato. Olharam um para o outro e decidiram que aquele seria o candidato perfeito, sabia falar, sabia ouvir e tinha jeito. 

    Renato que era um pato pacato não gostou da ideia, mas deixou-se convencer, pelo que viria a ser o chefe daquela irmandade e muito apreciado pela sua bondade e humildade. 

    Só vos posso dizer que não voltou a haver briga ou desavença pois o Renato dava logo a justa sentença.


 

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