Pequenos contos: O papagaio verde

    O papagaio verde morava na cidade, tal como tantos outros papagaios da sua idade. Não conhecia outro lugar, pelo que passava os seus dias, por ali, a voar, a pairar e a sonhar. É verdade! Um papagaio também sonha em ser aventureiro! Talvez em ser marinheiro (assim podia navegar pelo mar, sem parar), talvez em ser banqueiro (assim podia ter muito dinheiro (e fazer um cruzeiro), talvez em ser carpinteiro, bombeiro, barbeiro e, até quem sabe, cavaleiro! Obviamente, não passavam de fantasias na cabecita do papagaio pois, na realidade, nunca saira da cidade, conhecia o parque verdejante e já lhe parecia bastante.   

    Todos os dias tinha a mesma rotina: voar de ramo em ramo, cantar até se fartar e quando a fome apertava, olhava em volta e escolhia um turista que, depressa, a mão lhe estendia. Levantava-se do seu poleiro e pousava primeiro no braço, mas depressa andava até à mão, onde o esperava a sua refeição. Nem sempre lhe agradava a ementa, por vezes só queria um bolinho de menta, mas lá se contentava se lhe dessem uma fava. 

    Este papagaio era especial, tinha gostos diferentes, gostava de um bom filme que envolvesse ladrões e agentes, gostava de um bom desfile com roupas esvoaçantes e sapatos brilhantes. Os outros não entendiam como gostava ele daquelas coisas sem sentido, pelo que riam e o pobre papagaio sentia-se um incompreendido. Assim, por vezes, refugiava-se no cinema que ficava junto ao parque e só regressava quando o seu grande amigo, Duarte, lhe pedia.   

    Certo dia, sem querer, ou sem pensar, pousou na mão de um turista, achou que era alpista, mas, afinal, era um anel de brilhantes. Levantou com o anel no ar e só foi parar ao ramo mais alto para o poder observar. Que belo! Que singelo! Ficou contente com tamanho presente! Mas, mal ele sabia que o turista era um rapazinho que se preparava para pedir em casamento o seu grande amor e, que num breve instante, o papagaio lhe levou o diamante. O que fazer agora? Tinha que lhe ocorrer alguma ideia sem demora! No entanto, de se nada se lembrou e, apenas, por ali ficou. 

    O papagaio nem deu conta da tristeza que, sem querer, provocou, mas achou estranho um rapaz no parque a chorar. Estava longe de imaginar... 

    Os dias foram passando, e o papagaio guardava nas suas penas o seu tesouro, até já se imaginava a pedir a Julieta em namoro. 

    Corria a história do rapaz que vagueava no parque, sem alegria nem fulgor, apenas se via uma verdadeira dor por não poder concretizar o passo que queria dar. O nosso papagaio que era curioso, e já tinha visto o moço, quis saber o que estava realmente a acontecer e, depressa, entendeu que ele era o causador daquela dor. Ficou aflito! Os outros acharam aquilo esquisito! Então, ele teve que desabafar, tinha que explicar que nunca teve intenção de causar tamanha confusão. 

    Feito que estava o estrago, tinha que haver uma solução e juntaram-se aquelas cabecitas, unindo a razão ao coração. O plano ficou traçado e seria rapidamente executado. 

    No dia seguinte, lá vinha, novamente, o rapaz cabisbaixo à procura do seu anel e foi, então, que o plano entrou em ação e uma nuvem de papagaios cantantes o envolveram num voo estonteante: o nosso papagaio pousou-lhe no ombro e estendeu-lhe o anel preso a um lindo cordel. 

    Nesse mesmo dia, o Gabriel pediu a Raquel em casamento e, acreditem ou não, todos os papagaios se emocionaram com esse momento. Quanto ao nosso papagaio verde, aprendeu a lição e passou a comer apenas grão! 


 

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