Pequenos contos: Refugiados
Chorava a criança nos braços daquela mãe; aquela que o trouxera por quilómetros no seu regaço, aquela que, de tanto andar, de tanto se esforçar, já não sentia o braço. Não se ouvia um queixume, não se via uma mágoa, apenas se via, no seu rosto. uma lágrima que rolava.
Há muitos dias tinham deixado a sua casa, que, na realidade, era um casebre.
Há muitos dias tinham resolvido deixar a sua velha e miserável vida para trás.
A mãe sentia que já não era capaz...capaz de suportar a fome, a guerra, a injustiça. Sentia que estava na hora de ensinar ao seu filho o que era a paz, o que era o amor fraterno, o que era a segurança e um adormecer terno. Afinal, o sol nascia para todos por igual!
À caminhada, já longa, seguiu-se a viagem de barco; por entre atropelos, ondas, gritos e desesperos nem todos vingaram, nem todos chegaram à terra que os iria acolher. As autoridades foram à praia para os receber, as caravanas de autocarros levaram-nos à inspeção, à tradução, à organização, à admissão, mas esqueceram-se da compreensão, da atenção a quem chegou sem nada, sob o peso da estrada.
Entreolharam-se, fixaram o que lhes estendiam, alguém apareceu e tentou articular, por entre palavras e gestos, lá se entenderam. O que os esperava agora?
Uma estadia precária numa tenda onde o vento ecoava, onde a brisa do mar entrava, onde o canto das aves não soava, onde, ainda assim, se sonhava com uma vida melhor.
Quanto tempo por ali ficaram? Não se sabe.
Que vida ali encontraram? Uma que não lhes trazia as alegrias da infância, mas lhes afastava a guerra.
Que sonhos ali criaram? O desejo de uma educação, de uma profissão, de uma habitação, quem sabe o desejo de voltarem a ser felizes.

Comentários