Que belo par!

    Nem só de gatos reza a história, os cães também fazem parte dela! 

    É chegada a hora de vos falar das minhas cadelas, de uma grande e da outra pequena, de uma agitada e da outra serena, de uma desconfiada e da outra que quer sempre tempo de antena!

    Noite escura, adensa-se a trama, dois olhos reluzem, uma cauda abana...uma cauda abana? Pois, abana, abana...e surge, então, um pelo que roça, uma língua que se esfrega na mão, um bafo quente em plena noite de verão. De repente, já não mete medo, pois os olhos tornaram-se sinceros e desvendaram um segredo: não sou feroz, apesar do meu aspeto, transbordo carinho na voz! Por trás surge outra cabecita, salta, levanta-se nas patas traseiras, toda ela se agita...

    A Jessie foi a primeira a chegar, cachorro ainda, cresceu em tamanho e bondade sem nunca desperdiçar um minuto de brincadeira ou aquele breve momento para fazer uma asneira. Mas, animal, apesar de não ser gente, também sente, pelo que, rapidamente, ganhou uma companhia para partilhar o seu dia a dia. 
A relação não começou mal, repartiu o jardim e a casota, mas, partilhar a afeição? Isso era já outra conversa, não lhe pareceu nada bem, pelo que nem sempre se entendeu na perfeição, mas, deixem-me confessar-vos que não vivem uma sem a outra pois, assim, não há solidão.
  
    Adoram correr, ladrar e passear...aliás, os passeios são uma constante aventura: a Minnie tenta alcançar tudo e a Jessie adora ladrar ao gato cabeludo. A força de uma contrasta com a curiosidade da outra, mas quem nos vê passar fica seguramente a pensar “que belo par!”. A Jessie tem que ser a primeira, sempre na fila da frente, e a Minnie, com a sua coleira amarela, segue-a toda contente. 

    Alguns anos já se passaram, e quando começamos a achar que os ânimos se acalmaram, lá vêm mais uma ou duas peripécias que nos colocam no lugar: a Minnie continua a ser caçadora, não há pássaro que lhe escape, e a Jessie, por querer ser sempre vencedora, não há bola, nem pedra, nem pedregulho cuja curiosidade não lhe desperte. O jardim é o seu reino, ali tudo lhes parece pequeno: buscam brincadeira, procuram aventura, gostam mesmo é de ficar a olhar para quem passa e de ladrar, dependendo da altura. 

    Ao fim do dia, sentadas no jardim, surgem aquelas duas cabeças, uma repousa na Sofia, outra repousa em mim. Nesse momento, a doçura dos seus olhos transmite-nos a sua afeição, a confiança que procuram no carinho da nossa mão. 

    Já não existem uma sem a outra, nem nós sem aquelas duas, são simpáticas e doces, são, no fundo, duas ternuras. 

(O quadro acima, que retrata as cadelas, foi pintado pela Sofia, que gentilmente acedeu ao meu pedido para o divulgar juntamente a este texto). 


 

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