Pequenos Contos: A suricata Marta

    A suricata Marta era muito trabalhadora, todo o dia mexia e, por vezes, até corria. Fazia tudo o que sabia e engendrava mil e uma maneiras para aprender a fazer o que não entendia. 
    No meio de tanto trabalho a Marta não parava: cozinhava, limpava, costurava, engomava, plantava, regava, escavava e até pintava. A suricata não parava, apenas para dormir e comer uma aranha que, pelo caminho, apanhava.
    Houve uma vez que a pachorrenta preguiça lhe perguntou:
    - És feliz assim, suricata Marta?
    Pois ela não sabia o que dizer, não tinha tempo para perceber o que ela queria saber, pelo que continuou a trabalhar e disse-lhe apenas que não tinha tempo a desperdiçar. 
    O facto é que foi a primeira vez que lhe fizeram uma pergunta que a deixou a pensar e, embora ela achasse que não era importante, na verdade viria a perceber, mais tarde, uma triste realidade. Mas, para já, estava demasiado ocupada para se entreter com parvoíces e ficar para ali parada.
    Assim, foi tomar conta dos filhotes da mamã Esquilo e não foi tarefa fácil, nem para uma suricata desembaraçada pois deu consigo completamente alarmada no meio de tanta confusão: enquanto a Rosinha cantava, o Zézinho berrava; enquanto o Manelinho jogava, a Joaninha atirava tudo aquilo a que deitava a mão! Por instantes, a Marta não teve como controlar a situação! Teve que pensar rápido para encontrar uma solução e, engenhosa como era, depressa conquistou o coração daquelas quatro pestinhas e dominou a ação. Ufa, não foi fácil, mas a Marta não desistia assim de nenhum desafio, embora daquela vez tudo estivesse estado por um fio! O que é um facto é que a mamã Esquilo ficou muito admirada quando chegou a casa e toda a sua prole estava sossegada e a casa arrumada! Muito elogiou a Marta e pediu-lhe que regressasse na quarta. 
    Dali partiu em direção a casa do pato João que precisava de ajuda a pintar o seu barracão, depois iria a casa do cisne Joel para lhe escrever uma carta em papel, mais tarde, ainda, passaria na casa da coruja Leonor para lhe acertar o despertador e, assim, acabaria o seu dia. 
    Na manhã seguinte, a lista já estava completa e a Marta estaria ocupada de manhã à noite, sem tempo para respirar nem para parar. Como podem adivinhar, a Marta não tinha família, vivia sozinha na sua toca onde na realidade apenas ia quando já estava meio dorminhoca.
    Havia apenas um dia no ano, em que a Marta sentia uma maior solidão, era o dia em que todos festejavam a união e a amizade. Habitualmente, a Marta não saia da sua toca pois não queria que os outros soubessem da sua triste realidade, mas, naquele ano, quis ver como todos comemoravam a amizade. Andou cabisbaixa pelas ruas, o coração batia devagarinho enquanto as lágrimas iam ficando pelo caminho. Mal a Marta sabia que alguém a observava e, enquanto pensava naquilo que a preguiça lhe perguntou nem se apercebeu que alguém a chamou, pelo que apenas continuou. 
    Mais à frente uma luz forte a iluminou e apareceram-lhe todos aqueles que a Marta sempre ajudou, mas foi a mamã Esquilo que tomou a palavra e lhe fez saber que todos lhe queriam bem, todos a consideravam uma verdadeira amiga e que não queriam que ela ficasse sozinha na comemoração da amizade, pois eles eram a sua família de verdade. 
    Marta ficou muito emocionada e um pouco atrapalhada, vivia a trabalhar para não ter que pensar na sua solidão, e afinal todos a tinham no seu coração! 
    A partir dali Marta mudou a sua forma de ser e continuou a ter tempo para trabalhar, mas sobretudo para viver. Nada ficou por fazer, ela continuou a ajudar todos e a sorrir (é verdade, as suricatas sabem sorrir!) e a sentir o que era a amizade, o que era viver de verdade! Divertia-se a tomar conta dos filhotes da mamã Esquilo, a ajudar o senhor Grilo, a escovar a crina do cavalo Murilo e a aconselhar a cabra Valentina a viver com estilo! 



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