Pequenos Contos: Sebastião

    Sebastião era um ouriço que se perdia a comer chouriço, fosse ele cozido, assado ou grelhado, dia de comer chouriço era dia de festa, vejam só que até se esquecia de dormir a sesta. Bem, todos têm uma pequena perdição, e aquilo era o que trazia felicidade ao seu pequeno coração, mas pequeno só de tamanho, pois o Sebastião era um verdadeiro bonacheirão, ajudava quem quer que lhe pedisse ajuda, quem quer que procurasse uma solução.

    Certo dia ajudou o pombo Jeremias com o seu troféu; este ganhara uma maçã numa corrida e devia levar, para casa, aquele pitéu. Qual não foi a sua dificuldade quando a achou demasiado pesada e julgou estar numa verdadeira alhada! Tinha aquela maçã luzidia (bem melhor do que uma dura avelã) e achou que só engendrando uma acrobacia a levaria para onde queria. Enganou-se redondamente, pois apesar da ideia, rebolou o Jeremias e a maçã e não chegou onde pretendia. Eis que surge o ouriço bonacheirão, o Sebastião, e lhe deu uma mão!

    Depois, há também o episódio do Tobias, o galo esquecido, que a dada altura correu para longe da quinta em perseguição de uma borboleta e se esqueceu que tinha pé de atleta. Quando deu por si, já não sabia regressar, parou para pensar, mas não se conseguia lembrar do caminho de regresso. Enveredou por vários atalhos, mas sempre sem sucesso até que aparece o Sebastião e lhe deu uma mão (bem, é como quem diz, o guiou de volta à quinta).

    Houve, também, aquela altura em que o pato Lobato enfiou a cabeça num sapato e ficou tão aflito que não sabia o que fazer. Saltou, mas não resultou. Abanou até não poder mais, e, pronto para desistir, sentou-se. Surge, então, o Sebastião que lhe deu uma mão!

    Enfim, a vida era assim, o Sebastião não tinha propriamente uma ocupação, andava por ali e a quem precisasse dava uma mão até ao dia em que surgiu o gato Tonecas. Os olhos dele brilhavam no escuro, as garras sentiam-se afiadas, o pelo eriçado e o ouriço começou a sentir-se agitado. Embora o escondesse, Sebastião estava a ficar com medo pois não sabia o desfecho daquele enredo. O Tonecas crescia e o Sebastião diminuía, sentindo-se encurralado. Eis, então, que surgem todos aqueles a quem o Sebastião dera uma mão, pressentindo os apuros, resolveram ajudar o seu “irmão”, aquele ouriço bonacheirão. 

    No final, todos ficaram satisfeitos, o Sebastião estava a salvo, o Tonecas fugiu e no ar ficou a lição: ajuda quem te ajuda, pois quem te ajuda fá-lo de coração.  






 

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