Pequenos Contos: Marina, a menina traquina!
Marina era uma menina traquina, tão depressa jogava à bola como fingia estar a disparar uma pistola (de brincar!). De manhã à noite, não havia quem a parasse; do alto dos seus quatro anos tinha energia durante todo o dia.
Os pais andavam cansados; havia brincadeiras de todas as maneiras: para acordar tinham que fingir estar num hotel; para levantar tinham que fingir estar num avião de papel; para vestir tinham que fingir que era uma donzela; para ir para a escola tinham de fingir que estava numa novela...enfim, para tudo havia uma transformação, tudo era vivido com muita imaginação. Os pais, coitados, é que já estavam estourados pois nunca sabiam o que teriam de ser ou parecer.
Na escola era a menina com mais adrenalina, tanto assim que o professor, assim que a via chegar, bebia um café com mais cafeína. Tanta agitação, tanta turbulência reinavam naquela sala que nem à hora da sesta se desligava a potência. O professor dizia que ela dormia com um olho aberto e outro fechado para que nada lhe escapasse e para que estivesse sempre pronta para um bailado. A certas horas conversava, noutras dançava, até à hora do almoço a menina representava: fingia que era uma chef num restaurante ou então uma cirurgiã a executar um transplante (no fundo brincava com a comida pois tudo na sua vida era um faz de conta e ela estava sempre pronta).
A avó ia busca-la e levava-a ao jardim. Ela desatava a correr e a saltar e não havia forma de a apanhar. Era sempre assim! Quando ia o avô, apoiado na sua bengala, era ainda pior, pois, coitado do senhor, até perdia a cor! Regressava a casa resmungão e maldisposto com o suor a escorrer-lhe pelo rosto!
Os pais procuraram ajuda: leram imensos livros de pedagogia, procuraram os conselhos da tia, levaram-na ao doutor e recorreram ao professor...mas não havia quem lhes soubesse dizer o que fazer, como refrear toda aquela atividade. Havia até quem dissesse que era típico da idade!
Tentaram pô-la a tocar bateria e a ter aulas de filosofia (para crianças!), mas em pouco tempo lhes diziam que aquela não era a atividade certa para aquela menina traquina que, em sua opinião de entendidos especialistas, ela precisava era de disciplina! Que procurassem uma arte marcial... talvez algo menos tradicional!
Os pais conformaram-se com a ideia e com as traquinices da filha que amavam de coração, ela não fazia as coisas por mal, ela só não conseguia estar parada e não percebia toda aquela confusão!
Passados uns meses, nascia o seu irmão. Como reagiria a menina traquina ao João?
Pois nem queiram saber, nem os pais queriam acreditar, quando foram dar com ela sossegada a espreitar o bebé que dormia! A menina traquina, que a todos cansava, olhava maravilhada para o seu pequeno irmão e não fazia um som, não mexia um dedo com medo de perturbar aquele sono bom. A partir daquela altura, a menina sossegou, deixou de ser traquina e criou a sua própria rotina: ora brincava e pulava, ora se sentava no colo do pai e com ele partilhava, no aconchego do coração, uma história que a fazia viajar na imaginação.
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