Pequenos contos: A gaivota

    Sabem quando, num momento, surge a vontade de escrever sobre algo que nos faça sonhar e, de repente, se vislumbra no misto da imaginação uma gaivota a voar? 
    Pois é, esta é a história da gaivota que conheci, um dia, junto a um verdejante caminho e que andava, por aquelas bandas, à procura do seu estorninho. Quem seria esse estorninho que a gaivota procurava? Outra ave que voava? É isso que vamos descobrir e para começar nada como iniciar com “Era uma vez uma gaivota que era muito janota!”

    Certo dia, andava a gaivota entretida consigo mesma quando, de repente, vislumbra, mais à frente, uma luzidia bolota. Dirige-se a passo apressado em direção à mesma, mas quando chega perto eis que lhe salta ao caminho um pequeno estorninho, passarinho de pequeno porte, mas um pouco mesquinho. 

    A gaivota, ainda novata e bastante curiosa, ficou a olhar sem perceber bem o que pensar. O estorninho, por seu lado, filho de pais matreiros, percebendo a ingenuidade da sua companhia pensou, logo, em engendrar uma qualquer fantasia que lhe permitisse levar a melhor. E, assim, começou a chilrear e durante horas, sob o olhar atento da gaivota, nada o fez parar. Contou-lhe as suas aventuras na seara de milho, como, certa vez, domou um novilho, do dia em que enfrentou um espantalho e lhe roubou o agasalho, da altura em que navegou num barco e acabou a tomar banho num charco. A gaivota estava extasiada, perplexa, apaixonada por tais aventuras, por tanta coragem...afinal ela, que descendia de fina linhagem, ainda mal voara do oceano até ali e pouco mais fizera do que observar um javali! Mas o malandreco continuava, sem perceber que a gaivota se apaixonava por cada chilro que ele dava, por cada pormenor que engendrava, por cada volta que dava. 

    A gaivota de bom coração aventurara-se terra adentro para correr mundo, para conhecer um pouco mais do que o mar; apesar dos avisos das suas companheiras, ela estava disposta a arriscar. Não lhe bastava pescar e voar; adorava o mar, mas queria saber o que havia além da serra, da floresta e do pomar. Queria conhecer outros animais, outros rostos, outros espaços, queria enfrentar outros temporais! Mal ela sabia como...

    Naquele momento, em frente daquele pequeno passarinho, sentiu uma explosão no peito, sentiu-se a ficar sem jeito, tanto que nem percebeu bem o que aconteceu quando o malandro agarrou na bolota e se afastou da gaivota. Esta ficou confusa e ainda o chamou, mas sem sucesso, o passarinho já estava longe e não havia regresso. Baralhada com tudo aquilo, mas ainda a tremer de emoção, a gaivota levantou as asas e seguiu o seu coração. 

    Até à data a procura foi em vão, mas as aventuras que ouviu ainda lhe enchem o espírito de emoção, ainda a instigam a procurar, a não desistir de seguir aquele caminho na esperança de, um dia, encontrar o seu estorninho.  


 

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