Pequenos contos: A abelha

    A abelha Beta batia as asas, preparava-se para descolar, como se de um avião se tratasse, mas, de repente, um calafrio, um arrepio lhe subia até às asas e nada a fazia mover sem a Beta querer! 

    “Que doença estranha!” murmuravam uns.
    “Que angústia assustadora!” sussurravam outros.
    “Não será manha?” atiravam os mais afoitos.

    Que desgraça tamanha, uma abelha que não sabia voar! Ao invés disso, a Beta passava o seu dia a saltitar, mas não era fácil colher o polén pois todas as flores ficavam bastante altas no ar para uma abelha pequena que não fazia mais do que saltar.
    Tudo isto a entristecia; em certos momentos, até a enfurecia, mas depressa se recompunha para pensar em como voar ou, pelo menos, participar nas tarefas e a todos mostrar o seu valor. Assim, não havia flor que lhe escapasse desde que saltasse e com as suas patitas a agarrasse. Erguia-se com firmeza e recolhia todo o polén com a certeza de que sabia exatamente o que fazer. Depois, orgulhosamente depositava-o na colmeia para que todos os outros pudessem ver que, afinal, por não saber voar, isso não a impedia de trabalhar. Ainda, assim, sentia os olhares reprovadores, os murmúrios, aquelas conversinhas de bastidores; afastava-se, recolhia-se ao seu cantinho pois, no dia seguinte, bem cedo, metia-se novamente ao caminho.     Este tornava-se cada vez mais longo pois, por ali, já escasseavam as flores baixinhas; nada que a fizesse desistir, só tinha que se afastar um pouco mais e ir! 
    Habitualmente, era uma jornada que fazia sozinha e até lhe convinha, pois cantava, ria e gracejava consigo mesma sem se deixar abater, tudo fazia para não entristecer. 
    Ora, certo dia, aparece à sua frente uma libelinha, rodeou-a em largos voos, admirada por ver uma abelha a saltitar sozinha. Meteu conversa e depressa percebeu o problema da abelhinha. Altiva, mas gentil, a libelinha não se riu, não a recriminou, nem tão pouco a criticou, preferiu antes ouvi-la e tentar ajuda-la.     A abelha achou aquilo estranho, ninguém na colmeia a tentava ajudar, pelo contrário, todos metidos na sua vida, só paravam para olhar e pensar em como aquela abelha não sabia voar. A oferta da libelinha era única pelo que não havia muito tempo a perder, ali se combinaram as lições de voo e como proceder.             Assim, no dia seguinte, à hora combinada, lá estavam a professora e a aluna amedrontada para dar início às aulas de condução. 
     “Sim, minha cara abelha, o que te faz falta é pensar com a cabeça e esquecer o coração. O medo não te leva a lado nenhum, tens que ganhar coragem e esquecer o zunzum!” dissera-lhe com firmeza a libelinha. 
    Não pensem que foi fácil, nos primeiros dias a libelinha quase perdeu as estribeiras e a abelha as suas maneiras, mas, eis que, de repente, as asas se começam a mover, a cabeça a erguer e a abelha voa pelo ar sem pensar. Soltou um gritinho de alegria e, depois, outro de pavor pois foi bater de frente numa flor!             Apesar do acidente, do qual não resultaram feridos, ficou a professora orgulhosa e a aluna muito contente!
    Nesse dia, regressou à colmeia a voar e as outras abelhas nem queriam acreditar que era a Beta que estava a chegar. Ficaram incrédulas, felicitaram-na pela sua vitória mas desconfiadas com aquela história. 
    A abelha muito agradeceu à sua amiga libelinha por ter acreditado nela e por tê-la ajudado, com paciência e muito trabalho. E, assim, a abelha aprendeu a voar e nunca mais o fez sozinha, pois, ao seu lado voava a sua amiga libelinha. 


Comentários

Mensagens populares deste blogue