O meu conto de Natal Dulce era uma miúda tímida, mas bastante criativa; deixava-se cativar pelas brincadeiras dos seus colegas de escola e alinhava nos jogos do faz de conta. Contrariamente a alguns dos seus amigos, adorava ir à escola, fazer os trabalhos de casa e ler. De duas em duas semanas, a professora primária (nos anos 80 não se falava ainda em 1ºciclo, as escolas eram conhecidas como as escolas primárias, logo os professores eram igualmente professores primários...) levava-os ao velho armário que estava ao fundo da sala, era neste que estavam guardados os livros já gastos que a criançada levava para casa. Havia aqueles alunos que procuravam levar os livros mais finos, aqueles que procuravam os livros que tivessem muitas ilustrações e pouco texto, mas com a Dulce era o oposto: escolhia os livros que, de certa forma, lhe iriam aquecer o coração, pelo que não olhava ao tamanho, mas sim ao título. Nunca se esqueceu da vez em que levou o ...
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Manuela Farinha
Mãe O calor sentido daquele abraço deixavam-na esquecer as amarguras da vida. Na verdade, nunca pensara em ser mãe, achava mesmo que talvez não tivesse sido talhada para o papel. Quando alguém nasce, quem sabe o que o destino lhe reserva? Mas tudo aconteceu como devia. Foi mãe pela primeira vez aos vinte e nove anos e, assim que pôs os olhos naquele pequeno ser rosado que lhe colocavam no peito, foi como se todo o universo fizesse sentido naquele rosto redondo. A ternura de o agarrar nos braços, o calor que sentia ao coloca-lo junto a si, a ansiedade de o ouvir chorar, da inexperiência, da necessidade de se afirmar, levaram-na a ter a certeza de que a sua vida tinha mudado. Um sentido de proteção, de preocupação e de amor infinito fixaram-se dentro de si e a vida passou a ser dividida, a ser partilhada por aquele pequeno ser tão frágil. A fragilidade tornou-se afirmação, conquista do mundo, de pe...
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Manuela Farinha
Artur Artur era um jovem curioso. Sei que já vos tenho falado de pessoas diferentes, de pessoas que sentem e vivem à sua maneira, pelo que não poderia deixar de vos falar acerca do Artur. Nascera numa família numerosa, como tantas outras. Numa família em que ter o estatuto de filho mais novo pode não ser uma tarefa fácil quando tantas vozes se levantam e se querem fazer ouvir. Talvez por isso, Artur fosse um miúdo de poucas palavras, mas de muitos sonhos, de muitas curiosidades, com uma vontade imensa de abraçar desafios e, se pensam que veio a descobrir esta veia apenas quando cresceu, estão enganados! Desde muito pequeno que o menino ficava calado, sentado (quando ainda não sabia andar) a observar o que o rodeava. Não se aventurava na disputa de um brinquedo sem antes ter feito uma breve análise e ponderação, no fundo, pensar se valia mesmo a pena. Podem achar estranho, mas o Artur era assim. A mãe levava-o ...

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