O Segredo da Vida Ninguém dormiria na aldeia naquela noite. A inquietação já se fazia sentir há alguns dias, mas, particularmente, nas últimas horas a consternação e o desespero tinham aumentado. Manuel olhava inquieto para toda aquela gente, especialmente para a sua avó que se juntava às vizinhas nos lamentos e na angústia. Morar na aldeia, ainda que fosse apenas nas férias, trazia-lhe sempre um conforto, uma sensação de liberdade que não sentia noutra altura, fosse pela ausência de horários a cumprir, pela falta de tarefas obrigatórias ou pela sensação de espaço desafogado que tudo em seu redor lhe trazia, mas, naqueles dias, a tristeza e o medo das pessoas habitualmente alegres com a vida, também lhe traziam ansiedade. Os incêndios lavravam há dias na zona; iniciaram-se noutras aldeias, a bastantes quilómetros de onde estavam, mas os ventos, os infortúnios da vida e, quem sabe, a força ...