Certo dia, a mãe disse-lhe que "estava de folga"...oh, palavras mágicas!
- Posso ir ajudar os avós na loja do artesanato? - perguntou meio receosa a menina.
- Podes - disse-lhe a mãe - mas não atrapalhes e não aborreças ninguém!
Ainda a mãe não tinha bem terminado e já Jandira saia disparada atrás do Tomé. Não lhe custou fazer o percurso, apesar do sol escaldante que já se fazia sentir. Nem reparou nos burros selvagens que se passeavam pela ilha, nem notou o ondular leve que o mar trazia naquele dia, nem sequer na alegria das gaivotas que rondavam os barcos de pesca. Em pouco tempo, alcançaram a vila e dirigiram-se à loja dos avós.
A avó recebeu-os com um beijo sonoro em cada bochecha e o avô estava no seu cantinho a olhar o mar e a bebericar uma chávena de café. Estava sempre bem disposto e ficou muito feliz de ver os seus netos a chegarem. Tomé, já acostumado à rotina da loja, foi, de imediato abrir caixotes e arrumar as tartarugas nas prateleiras. Jandira olhou à sua volta na expectativa de se fazer útil mas não sabia por onde começar...
- Menina, podes ajudar-me aqui?
Jandira voltou-se e viu uma senhora elegante (bem, parecia estar na capa de uma revista...daquelas revistas que a tia Marlene colocava no seu cabeleireiro e só a deixava folhear quando já se tinha passado um mês e as clientes lhe tinham perdido o interesse...). De um fôlego só disse:
- Sim? Em que a posso ajudar?
- Estou à procura de uma peça especial, sabes? Quero oferecê-la à minha filha. Ela adora tartarugas!
- Eu também gosto muito! Há alguns dias, o meu pai levou-me para vê-las a porem os ovos na praia! Foi muito giro! E sabe? Daqui por uns meses, nascem os filhotes e vão diretamente para o mar...
- És uma miúda muito perspicaz! Tenho a certeza de que me consegues ajudar. - disse a senhora simpática esboçando um sorriso.
Jandira matutou rapidamente no que quereria dizer "perspicaz" mas não se preocupou, apenas a adicionou essa palavra à sua longa lista de e conduziu a senhora ao canto mais colorido da loja. Aí, escolheu a sua tartaruga de eleição e a senhora ficou deslumbrada. Antes de se despedir, a senhora puxou de uma nota e deu-a à Jandira, dizendo:
- Para que possas comprar uma guloseima, minha querida.
Jandira abriu muito os seus olhos castanhos e esboçando um grande sorriso, segredou-lhe:
- Sabe, daqui a uma semana eu vou para a escola e já tenho uma lista grande de perguntas e palavras para perguntar à professora. Com esta nota vou poder comprar um caderno e um lápis e escrever tudo! Hoje, foi o meu dia de sorte!
Jandira vivia numa ilha árida banhada por um mar aventureiro; era uma criança feliz, cheia de sonhos e de uma generosidade imensa. Cantava, dançava, brincava e sabia o valor das pequenas alegrias; daquelas que a faziam acreditar num futuro que construiria para si, um futuro que a levaria a viver nas nuvens!

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